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Dilma, ONU e agenda fixa

Dilma falou grosso na ONU. E a Mídia brazuca desdenhou, salvo o editorial da Folha.

Mas hein ?

Sim. O diário dos Frias registrou o acerto da presidenta nas críticas à espionagem americana. Além disso, ressaltou o fato de que Obama fingiu que não era com ele. Não chega a ser um elogio, mas uma análise equilibrada de qualquer ato que venha do Planalto neste momento chega a ser notável. Se não fosse atípica.

Porque na mesma edição do jornal um dos seus colunistas, Fernando Rodrigues, classificou o discurso de Dilma como baboseira. Desqualificou a ONU como instância para discussão e efetivação de ações reparatórias. E lembrou que, como correspondente em Nova York, “convivi com diplomatas e funcionários públicos mundiais por algum tempo. Ineficiência e inutilidade são as duas palavras que me ocorrem para definir o que presenciei de perto.”

Adjetivos que podem ser associados a muitos outros lugares. Algumas redações, por exemplo.

A manifestação de indignação de Dilma é legítima. Nada menos do que foi dito em relação à arapongagem ianque era esperado de uma (atenção) estadista. Fosse do Brasil, dos Estados Unidos ou de Burkina Faso. A postura brasileira na Assembléia Geral, muito além do ufanismo, foi um desabafo mundial à truculência digital americana. Difícil acreditar que algum diplomata, de qualquer país e por mais reservado e polido que seja, não concordasse com as palavras da presidenta.

E são, sim, apenas palavras o que se tem pra hoje. Qual seria a outra forma de dissenso ? A guerra ? Parece-me fora de questão…

A ineficácia da ONU na maioria das questões tem dois culpados: os Estados Unidos e o resto do mundo. O poderio econômico/militar americano lhe arroga a autoridade de síndico global. E o resto do mundo submete-se a isso, às vezes por bem, às vezes por mal. Muitas vezes, não há alternativa.

Dilma é criticada até quando acerta, e isso parece ser a agenda fixa da Grande Mídia. Mas nesse caso ela não bateu de frente com uma figura nacional que conte com a, digamos, simpatia da imprensa. Ela bateu de frente com Obama. Este sim, merecedor de todas as críticas. Esperamos, contudo. Deitados, óbvio.

Mas Rodrigues poderia ter feito pior. Poderia ter feito como o consórcio Merval Pereira/O Globo, a simbiose master da Mídia tupiniquim.

Nosso colunista preferido associou o duro discurso de Dilma à agenda eleitoral de 2014. Uma campanha muita cara, imagino, pois internacional. Não me ocorria que cidadãos de outros países pudessem votar no Brasil.

Voltamos à agenda fixa. Provavelmente, nem o TSE se preocupa tanto com eleições quanto à Mídia. Preocupação tão seletiva quanto precipitada. Dilma liderava pesquisas de intenção de voto, e com boa vantagem, antes das revelações de espionagem. E antes da reação, portanto. Nada que vá alterar muito o quadro. A não ser que “algo” aconteça ? Um “escândalo” ? Um novo “personagem” ? Um novo “partido” ?

O ato de tirar os sapatos nos aeroportos de Washington e Nova York, protagonizado por Celso Lafer em 2002, é mais simbólico do que qualquer outra coisa. De lá pra cá, a postura da diplomacia brasileira mudou muito.

A postura da Mídia, não.

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