Surfando a Onda. Ou “Te Cuida, Kelly Slater.”

A Grande Mídia surfa a onda de protestos. E o texto poderia ser apenas isso, uma frase que resume tudo. Mas tem muito mais por trás disso. Muito mais que um método de cobertura.

A mudança de atitude em relação aos protestos, encabeçado pelo mea-culpa de Jabor, traz mais questões embutidas. Os sorrisinhos da dupla Poeta/Bonner escondem mais. As redes sociais substituíram a Mídia como instância de “opinião pública”, por mais controverso que seja este conceito. Isto é fato. Inútil resistir, portanto. Os think-tanks midiáticos, verdadeiras “fábricas de discursos”, enxergaram o óbvio. E foram além.

Os confrontos entre manisfestantes “apartidários” e militantes políticos ganharam destaque, e foram conceituados. “As pessoas não se sentem mais representadas pelos partidos” é o pensamento dominante. Merval Pereira, em coluna de sexta (21/06) no Globo, escreve que “o movimento que chegou aos corações e mentes da classe média não se deixou contaminar por partidarismos.”

Como bom democrata, Merval sabe que partidos políticos, sindicatos, associações de classe, movimentos sociais, ONGs, federações e que tais são organismos de representação criados pela sociedade civil. E que são fundamentais para o funcionamento de sua amada democracia.

Nelson Motta, no mesmo jornal e no mesmo dia, lembra dos gritos de “o povo unido/sem sigla e sem partido” e que “para não ser vencido, o povo unido precisa estar representado no poder.” Ora, Nelsinho, e como isso pode ser feito sem partidos ?  Sem representação ?

Isso abre a porta para a segunda etapa do processo: o vácuo de representatividade, de poder. Que propicia o surgimento de Messias, de Salvadores, de Heróis. Em pesquisa do Datafolha divulgada ontem (21/06), Joaquim Barbosa aparece na frente na preferência dos manifestantes pela corrida presidencial com 30% dos votos. A metodologia, claro, não foi explicada. No dia anterior, o jornal Brasil de Fato divulgou um formulário do Datafolha de uma pesquisa sobre qual regime de governo o entrevistado prefere: democracia, ditadura ou tanto faz.

Qual o propósito ?  Bases “técnicas” ? Para quê ?

O último Salvador da Pátria da política nacional, ao que me consta, foi Fernando Collor de Mello. Pré-fabricado, é bem verdade. Por quem, exatamente ?

Prefeito biônico de Maceió e governador eleito de Alagoas, o jovem criado no Leblon chegou ao topo com o discurso de “Caça aos Marajás” e de luta pelos “descamisados”. Discurso moralista, no mesmo “vácuo de representatividade”. Deu no que deu. E veio o impeachment, impulsionado pelos protestos nas ruas. E quem estava lá, surfando ?

Tanto Nelson quanto Merval passaram batido pelo fato de que um dos alvos, dentre tantos alvos dos protestos, era a Grande Mídia. Repórteres foram hostilizados, carros queimados e manifestantes foram à porta da Rede Globo em São Paulo, na sexta-feira (14/06). A diferença para a era-Collor é que agora a Mídia não mais detém o monopólio da “opinião pública”. A agenda pública não mais se faz pelos seus editoriais.

Por ora, a Grande Mídia surfa. Conseguirá ela dividir as águas, como Moisés ?

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