Primeiro, os editoriais raivosos. Mais repressão, punição aos “vândalos” e “retomada da Paulista”.Depois, a distinção entre “manifestação pacífica” e baderna. Na sequência, a liberação para seus colunistas apoiarem a causa. E ontem, a cobertura fofa, meiga das passeatas.
Melhor impossível. Mas a Mídia, essa camaleoa, não dá ponto sem nó (Clichê Nº 1). Por que essa mudança ? Afinal, um comportamento reacionário e quase-golpista adotado há anos foi deixado pra trás em menos de uma semana.
Quem não se lembra da visão “peculiar” sobre o MST, sobre os Sem-Teto, sobre passeatas de professores, greve dos bancários, movimentos sindicais de todo tipo ? Ah, claro, e sobre “atrapalhar o trânsito” e “prejudicar a volta pra casa” das pessoas ?
Debaixo do angu tem caroço (Clichê Nº 2). Depois da “autorização” da tropa de choque pra elogiar o movimento, com direito a pedido de desculpas do Jabor (?!), o que vem por aí ?
Em 1970, auge da ditadura, a repressão popular ocorria nas ruas, nas fábricas, nos escritórios, nas escolas, nas faculdades, em todo lugar e a toda hora. Exceto nos jogos da Seleção. Aí era liberado. Não havia problema em aglomerações, bandeiras do Brasil, cantar o hino. E a Mídia exultava.
A pista pode estar aí. Em meio a todo este sentimento coletivo de indignação e desejo de mudança passou batido uma coisa: a Copa do Mundo no Brasil. É sintomático que esteja acontecendo no exato momento de uma competição da FIFA realizada aqui.
Como a Grande Mídia, parte interessadíssima na Copa e nos seus negócio$, vai tratar disso ? Desviar o foco ? Criar eufemismos ? Como abraçar o movimento pelas mudanças e conciliar com o discurso ufanista da Copa ? Jornalismo versus Entretenimento ? De novo ? Sim.
Dinheiro muda tudo. (Clichê Nº 3, o último). A oposição ferrenha, tenaz que a Mídia faz ao governo nos cadernos de Política e Economia, deve ser mais branda, quase pálida no de Esportes. Como resolver isso ? Pensem, think-tanks, pensem.
Se conseguir sair desse labirinto criado por si mesma, a Mídia poderá até capitalizar algo com as passeatas. Falamos de eleições, claro. Ou não. Ouvi dizer que rolou a palavra “impeachment” num canal ontem à noite. Alguém confirma ?
Se o discernimento não faz parte do receituário midiático, deve fazer do da sociedade. Então: pense, sociedade, pense.